“Um Lugar Silencioso” | Crítica
- Anderson Heldt
- 20 de abr. de 2018
- 4 min de leitura
Atualizado: 31 de jul. de 2018
Dispense a pipoca, entre no modo silencioso e aproveite essa produção no melhor som que puder.

Confesso que fui ao cinema sem saber absolutamente nada sobre esse filme, e pensando que seria sobre algo sobrenatural. Portanto, minha expectativa era zero. E agora posso afirmar que me surpreendi demais positivamente. O ator e diretor John Krasinski – mais conhecido pelo seriado “The Office” - , assim como Jordan Peele em 2017 com “Corra!”, traz um filme de terror / suspense que foge dos padrões e clichês habituais. O que acompanhamos em “Um Lugar Silencioso” (A Quiet Place, 2018) é a vida de uma família em um mundo pós apocalíptico com criaturas desconhecidas que atacam pela audição. A única proteção é o silêncio, pois as criaturas não enxergam mas tem um ouvido aguçado. Parece que você já viu essa sinopse várias vezes por aí, mas a direção e fotografia fazem esse filme se destacar e te surpreender.
Esse terror depende totalmente do silêncio pra funcionar, tanto pela pouca quantidade de diálogos, quanto pela trilha sonora que acompanha os acontecimentos e te passam informações importantes pra trama. Sendo assim, dispense aquela pipoca, ou aquela sacola cheia de guloseimas, e foque apenas no silêncio. Tive sorte de assistir em uma sala com pouca gente, e sem aquela ‘turminha do barulho’ no fundão. Conseguia ouvir qualquer reação das pessoas na sala. O silêncio era absoluto, e de importância extrema. Pra destacar essa importância, temos ali uma personagem com deficiência auditiva, vivida por Millicent Simmonds – que curiosamente tem a deficiência na vida real –, e em certo momento, a câmera está na mãe com os sons do ambiente acontecendo. Quando a câmera faz o movimento até a filha, o som vai sumindo e tudo fica quieto. Ali percebemos claramente a deficiência e como vive aquela personagem. O que nos deixa muito mais imersos na trama.
O suspense existe desde a primeira cena, quando somos jogados já no meio da história, sem nenhuma explicação. Essa ausência de informações funciona muito bem aqui, e nos permite pensar mais, além de criar uma tensão maior durante o longa. O roteiro apresenta uma família cheia de pontos fortes. Tem as crianças, que sempre se encaixam com perfeição em um suspense, e em um dos casos nesse filme nos puxa totalmente pra dentro da história; tem a deficiente auditiva, que vive um drama e é extremamente importante para o desfecho; tem o pai, que representa a força e sobrevivência do grupo; e tem a mãe, que traz o Amor e a proteção. O longa é feito praticamente por esses 4 personagens, com algumas participações ao longo. Mas são tão cativantes que fazem com que vivemos o drama, tensos e apreensivos até o fim. A criatura sempre aparece atrás de alguma coisa, ou em câmera fechada, sempre preservando a aparência pro momento certo. Isso é muito eficaz, e nos leva ao medo do desconhecido.

As atuações são magníficas e cada personagem tem seu drama pessoal. Apesar de não ter uma profundidade na história deles, são personagens intensos na apresentação. O diretor John Krasinski também atua, e vive o pai Lee Abbott. Emily Blunt - que é casada na vida real com Krasinski - vive Evelyn Abbott, a mãe e esposa de Lee. Blunt é o centro de tudo, e tem uma atuação impecável, chegando ao ápice na cena da banheira, de tirar o fôlego. Krasinski faz um personagem sempre atento e com instinto protetor. Sempre com um olhar de desespero, propício à trama. Millicent Simmonds vive a filha Regan Abbott, e por ser deficiente auditiva tanto na história quanto na vida, entrega uma atuação convincente e dramática. Situações do roteiro tratam da deficiência dela com maestria. Quando você pensa que o pai está sendo machista, na verdade ele conhece o potencial dela e na verdade quer evitar que a filha se magoe.
“Um Lugar Silencioso”, sendo um filme de gênero, chega despretensioso, mas atinge excelência na sua realização. Já me arrisco em dizer que está entre os melhores filmes do ano. Apesar de ter a produção de Michael Bay, não espere explosões ou ações gigantescas. Tudo é realizado com base no silêncio. Um filme pra observar, pensar e torcer. O terror nesse caso é bem equilibrado entre jump scares (os famosos sustos que surgem do nada) e a criação de tensão. Tudo acontece quando tem que acontecer. Um ponto que me incomodou um pouco, foi o fato de alguns barulhos serem perceptivos à criatura, e outros não, dependendo da necessidade do roteiro em cada situação. O final também me passou uma imagem destoada do que foi todo o filme. Na última cena, deu a impressão que tudo ficou fácil de uma hora pra outra, tirando assim todo o medo que o monstro nos passava. Mas nada disso é o bastante para estragar a experiência.

Aconselho assistir a esse filme na melhor sala do cinema da sua cidade. Procure o cinema com melhor som, pois isso fará muita diferença pra essa experiência. O silêncio absoluto do ambiente também é indispensável. Evite assistir com a turminha que tem aquele engraçadinho. E se for comer, faça nos momentos de trilha sonora. Assim não vai virar o centro das atenções. Em 90% do filme, os personagens conversam por sinais, traduzidos pelas legendas. Com todo esse silêncio, nos sentimos culpados em fazer qualquer tipo de barulho. E em silêncio, a imersão é completa e satisfatória. Aproveite o filme e deixe aqui seu comentário sobre como foi sua experiência. Bons filmes!
Nota: 8,5/10
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